sábado, 28 de abril de 2012

Homenagem: Em 29 de abril de 1905, nascia Dona Maria Izaura Vale. Conheça a história dessa ilustre jardinense

O blog Encantos do Seridó homenageia uma das mulheres mais marcantes da história de Jardim de Piranhas. Reproduzimos aqui, a matéria completa publicada na 1ª edição da Revista Jardimemfesta, lançada durante a Festa de Nossa Senhora dos Aflitos, em 2005. Confiram:


Familia de Januncio e Maria Izaura Vale, em 1953

Nascida a 29 de abril de 1905, no sítio Cachoeira do Anta, município de Jardim de Piranhas-RN. Filho do casal Emílio Castelar Vale e Lília Delmiro Oliveira do Vale, de família tradicional no Seridó, o seu pai fazendeiro bem sucedido.

Criada na fazenda onde nascera teve uma infância como tinham as crianças da época: alfabetizada e educada para o lar sob os princípios da religião católica. Desta feliz união, nasceu no dia 23/01/1908 outra menina, chamada Iraci Vale (que foi a mãe de Willy Saldanha). Seu pai, ficando viúvo, contrai matrimônio com Dona Crispina. Desse casamento nasceram quatro filhos: Francisca das Chagas Vale (Chaguinha), Leonir Vale, Valdir Vale e Benedito Vale.

Em 1920, com 15 anos de idade, Maria Isaura vem nos finais de semana, acompanhada de seu pai, fazer o curso de corte e costura, que era dado na Casa do Rosário, para as moças da época. Foi vindo a Jardim que ela conheceu um jovem bonito, chamado Janúncio, por quem se apaixonara. O seu pai opôs-se firmemente ao namoro. Não havendo consentimento para namorar, resolveram fugir para casar. Fugiram três vezes: a primeira, o pai mandou busca-la e a enviou para Natal, onde passou um ano estudando na Escola Doméstica; a 2ª vez fugiu e foi depositada na casa onde hoje mora Doca de Bastinha, na rua Velha. O seu pai tinha um irmão que era militar, conseguiu autorização e colocou soldados de guarda para leva-la a Caicó e depois viajaria novamente a Natal para a Escola Doméstica. Foi aí que teve sucesso um plano de ação: a mãe de seu Janúncio, Dona Theodora, e sua filha Mariana, entraram na casa onde Maria Isaura se encontrava. Ela querendo ver a felicidade de seu filho, trocou as vestes de sua filha Mariana, com a de sua futura nora, e ainda conseguiu tirar Maria Isaura de dentro da casa sem que os policiais percebessem.

No outro dia, quando foram buscar a “fugitiva”, quem estava no seu lugar era Mariana. Foi aquele alvoroço. Dona Theodora hospedou Maria Isaura na casa de dona Iaiá Saldanha (mãe de Marinheiro Saldanha), onde o seu pai não teve coragem de ir busca-la. O motivo do pai de Maria Isaura não aceitar o casamento era porque sua família era de condição financeira elevada, e seu Janúncio um jovem motorista profissional. Mas o amor verdadeiro foi mais forte.

Casaram-se no religioso na Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, no dia 17 de julho de 1922, sob às bênçãos do vigário cônego Celso Cicco. Serviram de testemunhas Manoel Cordeiro Vale e João Dantas Costa. O casamento civil foi realizado no dia 22 de setembro de 1922, pelo Dr. Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, Juiz de Direito, na cidade de CAicó-RN. Testemunhas: Odilon Salvino de Araújo e Manoel Domingos de Medeiros.

Começava, então, uma vida nova, sua experiência de esposa e dona de casa, tornando-se, com o passar do tempo, mãe de 11 filhos; sobreviveram seis: Geocy, Gevani, Gevacy (falecido em 1962), Lília, Salete e Greice (falecida ainda criança, em 1947).

Maria Isaura levava uma vida simples, rodeada de amigos, pois a profissão de seu esposo (comerciante de tecidos), no Mercado Velho (hoje Casa de Catequese), dava-lhe destaque naquela cidade pequena...Jardim dos anos 20.

Era uma mulher corajosa, trabalhava para ajudar na criação e educação de seus filhos. Com apoio de seu esposo, disposição e amor, enfrentou todas as dificuldades que surgiram a sua frente. Fazia doces, costurava em sua máquina de cairel, depois Singer, todas as roupas da família.

Nos finais de semana gostava de visitar as famílias carentes e os doentes, e quando percebia a pobreza da família visitada, retornava a sua casa buscando alguma comida, lençóis e roupas para dá-los àquela mãe carente. Seus gestos cristãos são lembrados até hoje quando carinhosamente a chamamos de “Madrinha Isaura”.

Mulher de fé e muito religiosa. A partir de 1925, quando construiu sua casa (hoje residência do padre), passou a dedicar-se à Igreja. Naquela época, a capela estava quase abandonada. Assumiu, a pedido do Pe. Celso Cicco, ser a guardiã do SS. Sacramento: todas as noites ia colocar o óleo do farol do Santíssimo e rezar o terço. Celebrava o mês de maio com todos ardor e devoção, e o dia mais esperado, em que toda a comunidade estava presente, era o dia 31, para a coroação de Nossa Senhora pelos Anjos, tradição que se mantém viva até os dias de hoje, fruto do seu trabalho. Com o passar dos anos, passou o serviço de guardiã do Santíssimo para Maria Calixto de Medeiros, onde também ensinou a conhecer todos os objetos litúrgicos e a purificar os sanguíneos.

Nessa época, além das festas religiosas tradicionais, colaborava com a tradição da Confraria de Santo Antônio, e a pedido de seu pai, Emílio Vale, assume a realização da Festa de Nossa Senhora do Rosário, devoção familiar por graças alcançada.

No dia 03 de julho de 1932, ela e mais 12 zeladoras do Sagrado Coração de Jesus recebem a fita do Sagrado Coração de Jesus do Apostolado da Oração, fundado pelo Pe. Luiz Teixeira de Araújo, e foi eleita a primeira presidente, cargo que assumiu por mais de 40 anos, passando para a senhora Eunice Gonçalves.

Em sua residência, hospedava padres, frades, e demais autoridades, onde tinha um quarto reservado somente para os religiosos. Destacamos como hóspedes os bispos: Dom José de Medeiros Delgado, D. José Adelino Dantas, e D. Manoel Tavares de Araújo, O Missionário Frei Damião de Bozzano, e o Padre Demontiez (Português), por ocasião da visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em 1953. Frei Egídio e Frei Mariano, nas Santas Missões de 1957.

Na época de D. José Delgado, foi criada a Escola Paroquial São José, “escola dos pobres” como era chamada, onde Maria Calixto de Medeiros foi a professora. D. Isaura coordenava e distribuía, com o Apostolado da Oração, o leite em pó para as mães carentes, além de cestas básicas. Doava-se por inteira por este trabalho social da Diocese de Caicó. Certamente tinha em mente os ensinamentos de Jesus: o que fizestes ao menor dos meus irmãos é a mim que estás fazendo.

O seu exemplo de zeladora do Coração de Jesus e mãe cristã, que passou de geração à geração, resta-nos agradecer.

Em 1968, faz um pedido especial a Monsenhor Walfredo Gurgel, (Governador do Estado), por intermédio do seu filho Geocy Vale de Freitas (Prefeito Municipal), que fosse instalada em nossa cidade a energia elétrica vinda de Paulo Afonso, a qual foi prontamente atendida. Segundo depoimento de Geocy “todas as vezes que precisava falar com o Governador do Estado, as portas estavam aberta”, e ele deve isso a grande consideração que as autoridades tinham por sua mãe, mesmo sendo de partidos políticos diferentes.

Lembrar os bons momentos vividos ao seu lado nos traz saudades e, ao mesmo tempo, o desejo de imitá-la, para que todos sintam todo o bem que ela em nosso meio semeou.

Dona Maria Isaura cumpriu com dignidade, sabedoria, fé, paciência, amizade e amor os papéis de mãe, avó e zeladora fiel do Sagrado Coração de Jesus.

Por tudo isso, ela merece a nossa atenção, a nossa lembrança, o nosso carinho e a nossa preocupação em torná-la sempre viva. Partiu desta vida em 21 de junho de 1985, deixando-nos como maior herança o seu exemplo de MULHER e MÃE. Seja a memória saudosa de sua vida, nossa luz hoje e sempre.

Fonte: Revista Jardim em Festa | 1ª Edição – Setembro/2005 – Editor: Geovanne Pereira | Matéria: José Macário

www.encantosdoserido.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário